Os militantes da palavra

Alessandro Buzo, Heraldo HB, Érica Peçanha e Canibal durante debate do Apalpe

No último dia 9, militantes das periferias de São Paulo, Duque de Caxias e Recife se reuniram na mesa “Palavra como militância no território”, na segunda rodada do Ciclo de Debates do Apalpe.

Na abertura deste segundo debate, Marcus Vinicius Faustini ressaltou a importância de se traçar iniciativas para incentivar agentes de origem popular a publicar seus livros e ao mesmo tempo trabalhar a palavra em diversos espaços.  “Na periferia há pessoas com uma vontade enorme de interferir na vida”, acrescentou o coordenador do Apalpe.

Mediados pela antropóloga Érica Peçanha, estudiosa da Literatura de Periferia, Canibal, vocalista da banda Devotos, de Pernambuco ;  Alessandro Buzo, escritor de São Paulo; e Heraldo HB, coordenador do Cineclube Mate com Angu, de Duque de Caxias.

“Fico muito contente em mediar essa mesa. Estudo a literatura marginal ou periférica, analisando a relação entre território e palavra. Trabalho fazendo esse registro acadêmico. Tenho uma satisfação social e política de participar deste debate”, completou Érica Peçanha.

Agente que articula território, música e intervenção social, Canibal é vocalista da banda Devotos, destaque no cenário punk-rock de Recife. Criada há 22 anos e com renome internacional, a banda desenvolve uma série de ações sociais em comunidades periféricas do Recife.

“Começamos o trabalho em nossa comunidade, Alto José do Pinho. Criamos uma rádio auto-falante. A rádio é feita pelos próprios moradores das comunidades e até mesmos pessoas analfabetas apresentam programas. Depois, replicamos esse trabalho em cinco comunidades de Recife. Nossa música não toca nas rádios e nem na televisão. Mas nosso trabalho social repercute não só em nossa comunidade, mas em todo Recife e no Brasil”, explicou Canibal.

Autor de seis livros, diretor do filme “Profissão MC” e apresentador do programa Manos e Minas da TV Cultura,  Alessandro Buzo contou como seu trabalho repercutiu no Itaim Paulista, comunidade na Região Leste de São Paulo com 400 mil moradores, onde ele mora até hoje.

“Comecei a escrever fazendo crônicas esportivas em um funzine do bairro. Depois, comecei a escrever textos denunciando os problemas da periferia, como os trens superlotados, por exemplo. Tive muitas dificuldades quando comecei a publicar meus livros. Mas completo dez anos de carreira publicando um novo livro e acredito que meu trabalho serve de referência para o Itaim Paulista, onde vivo até hoje”, acrescentou o autor do livro Suburbano Convicto.

Morador de Duque de Caxias, onde comanda o Cineclube Mate com Angu, o cineasta Heraldo HB salientou a importância do financiamento e da sustentabilidade de projetos de cunho cultural na periferia.

“A periferia tem uma produção cultural efervescente. A palavra estava presente o funk, no repente. Hoje está na arte digital. Mas é preciso que haja investimentos, dinheiro,  sustentabilidade.  Precisamos semear a palavra e as discórdias necessárias.  A interação a partir da palavra pode apontar caminhos para uma cidade melhor”, argumentou Heraldo HB.

O Ciclo de Debates do Apalpe aconteceu na Cia. do Atores, na Lapa.

Sobre alebizoni

Jornalista especializada em Mídia e Educação
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