Jailson de Souza encerra ciclo de oficinas do Apalpe

Jailson de Souza foi o último palestrante das oficinas do Apalpe

O nome dele é Jailson de Souza e Silva, filho de nordestinos e um dos primeiros “doutores da favela” do Brasil. Professor da Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense (UFF) e criador do Programa Conexões dos Saberes do Ministério da Educação (MEC), Jailson atualmente é secretário executivo da Secretaria Estadual de Assistência social e Direitos Humanos e coordenador-geral do Observatório das Favelas. 

É também autor do livro “Por que uns e não outros? Caminhada de Jovens da Maré para a Universidade”, fruto de sua pesquisa no doutorado em Educação. 

E, no último dia 11, Jailson de Souza foi o convidado escolhido para encerrar o ciclo de oficinas do Apalpe. 

Não fosse o tom informal e a simpatia do professor da UFF, o bate-papo com os “apalpianos” teria se transformado em uma conferência sobre os caminhos que levaram o morador de Braz de Pina aos bancos da Academia, tendo seu trabalho reconhecido por órgãos de abrangência internacional, como a Unicef e a Unesco. 

Para revelar a importância da Palavra e da Cidade em sua trajetória, contou um pouco de sua caminhada. Filho de imigrantes nordestinos, nascido numa família de cinco irmãos, passou a infância e adolescência em subúrbios da Leopoldina, como Braz de Pina e Irajá e, mais tarde, foi morar na Maré. 

“Aprendi a ler com cinco anos. A leitura foi um caminho fundamental para mim”, revelou Jailson que, aos 14 anos, entrou em contato com movimentos progressistas na Igreja Católica, tornando-se um militante. 

Desse modo, o garoto do subúrbio passou a ter contato com literatura, teatro e variadas linguagens que o ajudaram a tecer, na época, críticas ao sistema social. “Trabalhava como entregador. Fazia trabalhos do Leblon a Xerém. Desse modo, circulei bastante e ampliei a minha percepção de cidade”, acrescentou. 

Em 1979, Jailson foi aprovado no vestibular para Geografia e, pouco tempo depois, se interessou por educação popular e começou a dar aulas. Ao longo da década de 80, tornou-se dirigente do Partido dos Trabalhadores (PT). 

Já na década de 90, ainda morando na Maré, torna-se professor da UFF e é apontado como um dos “doutores da Favela” por ser um intelectual que reside no Complexo da Maré. Em 2002, criou o Observatório Social das Favelas que, mais tarde, passou a ser chamado apenas de Observatório das Favelas, tornado-se uma Oscip independente. 

 O Centro está em toda parte – Ao tratar dos discursos feitos sobre a periferia e a cidade, Jailson ressaltou a necessidade de se romper com a idea de que existe um centro e uma periferia. “Para haver uma periferia é preciso que haja um centro. E essa representação é marcada pela inferioridade, pela hierarquização. A mesma hierarquização presente na relação escravo/senhor, homem/mulher, colônia/metrópole. E existe um processo de ‘naturalização’ desse discurso. Precisamos criar um outro discurso sobre a cidade, que não tenha marcas de ódio”, explicou. 

Diante do surgimento de diversos movimentos e entidades, como o Afroreggae, a Central Única das Favelas (Cufa), o Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré (Ceasm) e o Redes da Maré, o idealizador do Observatório das Favelas defende um conceito de cidade plural. 

“Quando se define o que é favela, só encontramos pontos negativos. A cidade não é partida. O problema são as relações hierarquizadas. Por isso, fizemos o trabalho “O que é favela afinal? Precisamos olhar a cidade de um outro lugar, enxergando a riqueza da produção teórica sobre a periferia. E criando programas e projetos que estimulem o surgimento de intelectuais da periferia. Na realidade, não existe mais periferia. O que existe são diferentes centralidades”, completou. 

A palavra e a interpretação do território – “Não seria o que sou sem a palavra”, declarou Jailson de Souza, ressaltando a importância do prematuro gosto pela leitura. 

Nesse sentido, o secretário executivo da Secretaria Estadual de Assistência Social e Direitos Humanos salientou que é preciso criar um novo conceito de cidade, que ainda tem fronteiras invisíveis. 

“Precisamos da palavra da periferia. Precisamos do reconhecimento de novas perspectivas de palavra e de interpretação de território, gerando um novo projeto de sociedade, que dê significado a essa inserção”, ponderou o intelectual. 

Nesse contexto, o professor lembrou, ainda, da necessidade de construção de novas estratégias para dar voz a pluralidade de cidadão que constituem a cidade. 

“Cada geração vai construindo suas próprias estratégias. Temos um princípio: todos nascemos cidadãos. Então, todos temos direto à educação, à saúde, à moradia, à segurança. Por isso, precisamos lutar para multiplicar os intelectuais de origem popular”, completou.

Sobre alebizoni

Jornalista especializada em Mídia e Educação
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