Conversando com Luiz Eduardo Soares

 

Luiz Eduardo apontou inovações na concepção do Apalpe

 Autor de vários livros, roteirista e antropólogo, Luiz Eduardo Soares transita com facilidade entre os universos acadêmico, artístico e político.
Professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e coordenador do curso de Gestão e Políticas em Segurança Pública na Universidade Estácio de Sá (Uesa), foi secretário Nacional de Segurança e também integrante do grupo teatral “Asdrúbal trouxe o trombone”, que marcou a cena da cultura brasileira na década de 80.  

Coautor dos livros Cabeça de Porco, Elite da Tropa e Espírito Santo, autor de Meu Casaco de General, roteirista de Tropa de Elite I e II, Luiz Eduardo Soares revelou suas impressões sobre a proposta do Apalpe.  

Apalpe – Que colaboração essa diversidade de olhares sugerida pelo Apalpe sobre a cidade pode trazer para nossa cultura?

Luiz Eduardo Soares – Todo processo de transformação é um processo cumulativo, surpreendente, que não se controla e não se prevê. E para o qual concorrem iniciativas limitadas no tempo e no espaço, mas que nem por isso não deixam de ser significativas. Eu acredito que um conjunto de contribuições deste tipo começa a criar um espaço mais sensível ao desenvolvimento de uma cultura mais tolerante, mais sensível à diversidade, à diferença. Nós temos alguns valores dessa nova cultura e outros elementos estão emergindo com força. E isso pode gerar uma coisa num futuro próximo.  

Um dos objetivos do projeto é a criação de novos guias e mapas afetivos da cidade. Em termos de ação política, como avalia essa proposta?  

Esta é uma das coisas mais interessantes que surgiram ultimamente porque já propõe outra visão do que seja a política, do que seja a cidade e do que seja a criação estética, a memória, o depoimento. Para além do mero documentário, do mero esforço de reflexão crítica e de conhecimento, se tem tudo isso, porém numa clave mais pessoal. E o que pode ser mais pessoal pode ser também bem mais universal promovendo a empatia e trazendo alguns aspectos inconscientes com mais facilidade. Os aspectos inconscientes são, no fundo, mais autênticos e mais universais.  

Que contribuições o Guia Afetivo da Periferia dá à Literatura Brasileira?  

Considero o Guia Afetivo da Periferia interessante: se inscreve numa tradição do memorialismo a partir de uma perspectiva biográfica, mas transcende o mero testemunho. Constrói um olhar, um narrador e uma narrativa já numa esfera da criação literária e ficcional. Respeita os jogos de linguagem típicos do literário, criando uma empatia com esse trânsito muito subversivo, transgressor e singular, que é o trânsito pessoal de Faustini na cidade. A narrativa conduz o leitor ou a leitora por uma cidade imaginária que, no entanto, é uma cidade real, surpreendente. O que desnaturaliza as cidades reais, que suporíamos as nossas, frutos de construções da linguagem empobrecedora, dominante e preconceituosa.    

Apalpe revelará novos olhares sobre a cidade

Qual é o diferencial do Guia Afetivo em termos de recorte da periferia? 

Falei em termos de empatia. A idéia de empatia tem a ver com a ênfase do afetivo. O Faustini conta com muito amor, uma vivência que tem seus momentos de tristeza e sofrimento, mas que é, sobretudo, a vivência de uma vasta humanidade capaz de suplantar esses entraves todos. Isso é como se fosse capaz de infundir no sofrimento uma aura de transcendência que a torna perfeitamente assimilável e parte até constitutiva de um humano que não se esgota no sofrimento, que é capaz de conviver com a utopia da fraternidade, da solidariedade, da liberdade, da equidade; que é capaz de convier com a prática da sociabilidade afetuosa; que é capaz de conviver com o afeto; que é capaz de convocar o leitor ou a leitora para uma jornada afetiva por uma sociedade mais democrática e plural.

Sobre alebizoni

Jornalista especializada em Mídia e Educação
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