
Arquiteta, professora, artista plástica e arte-educadora, Beá Meira apresentou a palestra "A visualidade da palavra"
Arquiteta, professora, artista plástica e arte-educadora, Beá Meira inaugurou o ciclo de palestras e debates do Apalpe – a Palavra da Periferia.
Em sua apresentação, a professora explicou que em nossa cultura, a linguagem verbal ocupa uma posição hierárquica acima da linguagem visual. A ilustração é um complemento ao texto.
Contudo, a arte-educadora afirmou que “a partir da imagem visual é possível pensar, elaborar pensamentos originais, que não são possíveis de serem pensados na linguagem verbal”.
A história da escrita
Após distribuir uma cópia do texto “Por que a escrita levou tanto tempo para surgir?”, de Michael Cook, extraído do livro Uma breve história do homem, Beá Meira fez um histórico da caligrafia desde o surgimento da escrita.
Mostrou a “Arte representativa e a escrita no Egito”, explicando como desenhos, pinturas e relevos encontrados nas sepulturas e nos templos tinham uma unidade profunda com a escrita monumental chamada hieroglífica.
Logo a seguir, a arte-educadora comentou a “Caligrafia e poesia na cultura chinesa”, desenvolvida no século IV entre a aristocracia. Neste contexto, citou Wang Xizhi (303-361), que se dedicou à caligrafia cursiva transformando-a num meio de expressão da personalidade. A “Caligrafia no islã” também mereceu especial destaque durante a palestra, uma vez que é baseada em complexos padrões geométricos. No Islamismo, não é permitido representar a figura humana.
Outra citação da artista plástica é do poeta Marinetti, que, no início do século xx, junto às vanguardas européias, defendeu o conceito de “Palavras em liberdade”, no qual reuniu uma série de propósitos como; uso da onomatopéia, uso da tipografia de forma a interferir no conteúdo do texto e livre ortografia expressiva.
Nessa evolução do tratamento da escrita, também foi feita alusão aos trabalhos dos suprematistas russos, que visavam, dentro de uma linha de vanguarda, criar objetos úteis e promover o bem coletivo.
Beá Meira mostrou, ainda, trabalhos do poeta concretista Augusto de Campos e de artistas plásticos, como Rubens Gerchman, que produziu trabalhos calcados na cultura popular como a “Cartilha no superlativo”, com a idéia de transformar texto em objeto, com formas tipográficas enormes, lembrando monumentos.
Por fim, a arquiteta apresentou o trabalho de artistas contemporâneos, como Leon Ferrari e Mira Shendel, que incorporam em sua obra elementos como rabiscos, borrões, enfim, com estéticas de transformação da linguagem.
A apresentação de Beá Meira , dissertando desde o surgimento da escrita até as obras de artistas contemporâneos, não foi só uma abordagem histórica. Analisamos diferentes padrões estéticos e ficou claro que , muitas vezes a linguagem verbal (que ocupa uma posição hierárquica acima da linguagem visual) nem sempre é tão eficaz na elaboração de pensamentos originais.
Bom mesmo foi a parte prática, quando fomos incentivados a pixar, grafitar e perceber por nós mesmos, a força que a linguagem visual .
Valeu Beá!
A primeira palestra do Apalpe já causou frisson!
Cristina,
Eu sou uma militante da linguagem visual. Mas até para defender esta idéia utilizo a linguagem verbal; dando aulas e escrevendo livros.
Acho top de linha o trabalho do Ed Fella
Beá,
Isso só me faz ter mais certeza que a linguagem visual é tão mais eloquente, que precisamos uitizar de um código mais limitado (verbal) para poder fazê-la caber dentro do tangível.
Hare